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Pense rápido em tendências de moda e provavelmente irá pensar no que mais se usa hoje, no momento, no presente. Mas as tendências são muito mais do que propriamente o que vivemos agora – elas implicam mais especificamente no futuro do que na própria atualidade. Jorge Grimberg, consultor de tendências e comunicador, explica que as tendências são “movimentos que antecipam o que o consumidor vai desejar no futuro”. E talvez seja por isso que as tendências de hoje não são as mesmas que a de 100 anos atrás – muito menos feitas e dissipadas como naquela época. Afinal, quando se trata de tendências de moda também se deve pensar que esta é um reflexo da sociedade, suas evoluções e comportamentos.


Na prática, feche os olhos e pense nos anos 80, com todas as suas referências dessa década, pois vamos analisar rapidamente uma parte do contexto histórico da época. É possível lembrar da influência de Madonna com suas jaquetas de couro, rendas ou ainda maquiagens e penteados maximalistas. Em 1986, com o filme ‘Top Gun’ em alta, passamos a ver o uso dos óculos aviadores no rosto de quem vivia naquela década. A princesa Diana também podia ser considerada uma influenciadora de moda de sua época, fazendo com que o que usasse se tornasse rapidamente o objeto de desejo do momento. Vale ainda lembrar do estilo da Viúva Porcina, da novela Roque Santeiro, de 1985, que usava maquiagens ousadas, turbantes e óculos escuros que viraram febre entre as espectadoras. Como pôde reparar até então, as modas chegavam e influenciavam o grande público através dos grandes meios de comunicação da época: em especial a televisão e as revistas.


Agora podemos deixar um pouco de lado as características dos anos 80 e dar um salto nessa linha do tempo até nosso período atual, mais especificamente os anos 2022 e 2023. Estamos rodeados pela tecnologia, com extrema facilidade de acesso à internet – e isso significa um acervo gigantesco quase inesgotável sobre o assunto que você quiser saber, da época que se interessar e no momento que sentir vontade. Essa enxurrada de informações mudou não somente a nossa sociedade como também especificamente a maneira na qual a indústria da moda opera – e isso implica diretamente em mudanças desde como as tendências de moda surgem até a como elas funcionam no momento.

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(Imagem de Freepik)

A quantidade de tendências e o quanto elas permanecem em alta mudou; e isso é reflexo de uma sociedade imediatista

Assim como a sociedade dos anos 80 tinha o seu jeito de viver, nós também temos o nosso modo de operar. Com a chegada da internet, muito antes de o Whatsapp permitir que os áudios fossem ouvidos duas vezes mais rápido, começamos a nos tornar cada vez mais imediatistas. As facilidades que o ambiente digital nos presenteia também reflete na maneira como consumimos moda. Quem explica todo esse movimento melhor é Érika Gottsfritz, criadora de conteúdo fashion, formada em design de moda e graduanda de sociologia.

“As tendências de alguma maneira representam muito bem a dinâmica social que vivemos hoje. A gente se tornou cada vez mais imediatista: as redes sociais, o iFood, o Uber que chega no hospital em cinco minutos, tudo isso torna a gente cada vez mais imediatista – e não teria como a moda não acompanhar” - Érika Gottsfritz

Isso pode ser considerado um dos porquês de as tendências de hoje serem tão rápidas, passageiras e frívolas. É extremamente difícil mapear quantas microtendências surgiram – e não duraram praticamente uma semana – nas redes sociais durante todo o ano de 2022. Se antes, as tendências de moda ficavam em alta por anos, hoje em dia algumas chegam a ficar em alta por no máximo meses. Um exemplo disso são os chapéus de cowboy. Por uma determinada época, esse acessório virou a febre do momento, acompanhado das botas western, também voltadas para o universo das fazendas. Enquanto o calçado permanece em alta até os dias atuais, o chapéu foi foco dos holofotes por pouquíssimo tempo. É possível encontrar diversas matérias nomeando o acessório como a tendência do momento – porém, essas notas foram publicadas em sua maioria entre março e agosto. Após o meio do ano, o hype sobre a peça caiu drasticamente.

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(Imagem de Freepik e Google)

Em comparação com o passado, Érika explica que um dos principais motivos de as modas de antes terem um tempo de vida útil mais longo, é simplificadamente porque era assim que as sociedades passadas viviam. “A sociedade daquela época demorava para criar novas tecnologias, para surgir um novo movimento artístico, uma nova corrente filosófica”, ao contrário dos dias atuais, em que temos um novo app nascendo praticamente diariamente.


Como brincou Érika, se não aguentamos esperar sequer os novos episódios da série que assistimos chegar ao streaming, quem dirá aguardar nossas novas peças de roupa serem produzidas e chegarem aos nossos armários sem ficarmos o dia todo de olho no rastreio. A moda, frívola e passageira, é o simples reflexo de nós.

A maneira como fazemos tendências mudou; e isso é reflexo da nossa evolução tecnológica!

Outra mudança ocasionada pelo ambiente digital é a maneira de se fazer tendências. “Antes tínhamos aqueles padrões, os modismos em captar tendências”, é o que explica Érika: “Tínhamos a presença do gênio criativo, que viajava, que via uma exposição, que juntava aquele referencial de vários lugares, fazia um mix ali de referências de épocas que já se passaram e criava uma tendência”.

Hoje, com a internet, a datasize e todos os mecanismos tecnológicos, é possível juntar, sem sair do seu sofá, todas essas referências da arte, música, cinema, o repertório de décadas, atrelado ainda ao comportamento e desejo do consumidor, que fica cada dia mais nítido e escancarado nas redes sociais: “Hoje temos um entendimento do comportamento do consumidor e dos desejos muito mais apurado do que tínhamos há 20 ou 30 anos. As marcas conseguem mapear exatamente o que o consumidor quer, o que ele está buscando, o que deseja comprar”. Jorge Grimberg acrescenta ainda a reflexão de que a internet é para as tendências de moda “uma ferramenta importante para análise e pesquisa, pois facilita com que a gente consiga identificar e validar os movimentos”.

"Estamos quase em um momento de quem nasceu primeiro, né? O ovo ou a galinha? [As tendências] nasceram na rua e foram para as redes ou das redes foram para as ruas?”

- Érika Gottsfritz

De acordo com Jorge, as outras gerações “não tinham esse acesso a todo arquivo dos desfiles, de todas as marcas, de todas as exposições de arte do mundo. Hoje em dia a internet dá acesso a tudo”. O ambiente digital passa assim a ser uma grande e confortável casa para as tendências de moda, e uma casa aberta também ao público. E isso nos leva a outra grande mudança do ambiente digital nas tendências de moda:

O pertencimento das tendências mudou; e isso é reflexo do fácil acesso à informação!

O comunicador explicou que, antes do ambiente digital, era comum “a informação [em especial a tendência já formulada] ser somente recebida pelo consumidor final, o que acabava tornando aquilo uma ditadura da moda”. Isto é, os grandes grupos editoriais ou ainda as grandes grifes determinavam quais eram as tendências da vez e essa informação já chegava completa para o consumidor. Pela ausência de um ambiente global, de grande repercussão e estabilização para debates e compartilhamento de ideias, cabia aos consumidores aceitarem o que estava em alta no momento – que era justamente o que estava sendo vendido nas lojas. Neste sistema, não havia uma participação muito ativa dos próprios consumidores a respeito do que iriam comprar e usar nos próximos anos.

 

“Hoje com essa pluralidade, a quantidade de vozes que a gente tem, não existe mais essa hegemonia de quem manda na moda, quem manda na tendência de moda. Isso acontece muito [porque] a indústria acaba reagindo às tendências do Tik Tok ou aos movimentos que surgem em diversos lugares, até em festivais de música, locais de cultura jovem pulsante.”

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Como as grifes estão reagindo à influencia do ambiente digital nas trendsATDV!
00:00 / 17:20

         Para ouvir esse podcast no Spotify, clique aqui!

A própria rede social Tik Tok – não somente citada por Jorge como também considerada uma das redes que mais revolucionou a participação na criação de tendências atualmente – fez recentemente um estudo para comprovar “o impacto do Tik Tok”. 

 

Segundo as palavras da própria rede, o impacto está “se traduzindo fora da plataforma e no mundo real, remodelando o caminho atual para a compra e impulsionando as vendas em escala”. Neste mesmo estudo, eles explicam que ao invés de forçarem os seus consumidores “a seguir o caminho linear de compra do passado”, estão colocando todo o poder nas mãos de seus usuários e “construindo em torno de seus comportamentos e seguindo sua liderança”.

O contato entre a moda e o leitor mudou; e isso é reflexo da proximidade gerada pela web!
 

Como comentado em um dos tópicos acima, o ambiente digital proporcionou uma proximidade entre o consumidor e todo o universo modista. 

Ana Luiza Moreira, por exemplo, é mais do que ligada à moda e às redes sociais – ela as usa justamente para traduzir a sua própria personalidade. Na aba “seguindo” de seu Instagram, ela conta com a presença não somente de amigos e familiares como também de celebridades da cultura pop, perfis de viagem e influenciadores de moda. A nutricionista explica que utiliza as redes não somente para se manter informada como também se conectar com realidades diferentes da sua própria.

 

“Eu sigo muita gente que tem um estilo e um padrão de vida muito parecido com o meu, mas eu também gosto de explorar outros universos, mesmo sabendo que nem sempre aquilo que a gente vê em uma rede social é a realidade”, explicou. Com esse propósito, utiliza mais as redes para acompanhar os perfis alheios do que propriamente compartilhar sobre sua própria vida.

 

No consumo de conteúdo, ela curte tudo do universo fashionista: acompanhamento de tendências, rotina de influencers e desfiles. Nascida em 1997, ela explica que durante a maior parte de sua vida teve como referência as revistas – que eram o meio de dissipação mais forte de informações fashions. A roupa da vez, a influenciadora do momento e como se vestir para o primeiro encontro: todas essas informações você encontrava nas páginas das revistas.

 

Apesar de utilizar esse meio para se manter informada do assunto que sempre gostou, a nutricionista comenta que se sentia distante de todo aquele universo apresentado pelas magazines por conta da ausência de representatividade. “Por mais que eu gostasse muito de moda, eu demorei muito para me identificar e me conectar. Não fazia muita parte do meu mundo, eu não via pessoas parecidas comigo”, explica, reforçando a ausência da beleza preta naquela época. Em observação, “as redes sociais contribuíram muito para que outros tipos de corpos tivessem espaço e visibilidade", segundo ela.


Ao contrário das revistas, que tinham como capa estampada as celebridades escolhidas pelas grandes indústrias de comunicação usando roupas eleitas pela grande indústria da moda, ela agora escolhe quem quer ver em sua timeline – ou seja, por quem deseja ser influenciada. 
Mulheres pretas, que exaltam a cultura ancestral africana, ganham seu follow.  “São mulheres que são fortes e demonstram poder através do cabelo, do estilo de roupa. Me inspiro e penso muito nelas quando vou usar um look ou vestir alguma peça.”


A importância e relevância dessas influenciadoras inicia-se logo em duas características que Ana não sentia nas revistas: representatividade e identificação. “Foi uma coisa que faltou muito na minha infância e adolescência, e é uma coisa que as redes sociais possibilitaram. A gente ter contato com essas mulheres, dar voz para essas mulheres, criar uma grande comunidade de mulheres que se identificam”. Ana vai além: acredita que essas influenciadoras podem ainda potencializar ainda mais seu próprio poder, autoestima e estilo.

 

“Eu busco através do que visto causar uma impressão, usando o que gosto e transparecendo minha personalidade. É uma forma de você dizer quem você é, mostrar sua força, poder e beleza” - Ana Luiza

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